Respostas de um Astrofísico (de Neil deGrasse Tyson): uma reflexão
Transcendendo os efeitos paralisantes do negacionismo científico, que assola a nossa jovem espécie há milhares de anos, Neil deGrasse Tyson e Carl Sagan fundamentam um esquadrão importantíssimo para o Homo Sapiens. Antenados às circunstâncias, eles desbravam uma realidade que você desconhece. Uma realidade determinante, fria, vazia, solitária, que chamamos de Universo Observável.
O autor do livro Respostas de Um Astrofísico (Neil deGrasse Tyson) é um astrofísico e divulgador da ciência, atualmente responsável por um planetário público em Manhattan. Ele tem 63 anos e foi uma pessoa fortemente influenciada por Carl Sagan — também astrofísico, entre outras inúmeras titulações.
As Descobertas do Mundo Natural e A Consciência do Homo Sapiens
Com entusiasmo e com paixão, eles nos ensinam que a ciência é uma forma de pensar, mais que um corpo de conhecimento. Uma forma de pensar… um olhar estrategicamente direcionado. Para onde? A ciência pode ser uma bússula orientadora para um futuro próspero; ou para um inverno nuclear. A ciência é capaz de esbaldar inovações tecnológicas; ou transbordar alagamentos em cidades, e sangramentos em campos de concentração.
Eis aqui um novelo a ser desfiado: estaria a consciência do Homo Sapiens preparada para utilizar as benezes do planeta, fazendo uso das descobertas advindas do mundo natural?
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No Brasil, eu me lembro de quando era criança, e assistia as animações do Drauzio Varella que passavam na televisão. Glóbulos vermelhos… bioquímica… biologia… O médico e divulgador da ciência Drauzio Varella me incutiu um grande fascínio para com o mundo natural. “Isso tudo existe dentro de mim?!” — e certamente não existe nada mais contagiante que a curiosidade de uma criança.
Logo mais, essa curiosidade fora explorada assistindo Cosmos, do Carl Sagan, durante a minha adolescência.
Infelizmente, o que está claro é que agora vivemos num mundo em que as diferenças de opinião levam a brigas, e não conversas. Diferenças de opinião deveriam levar a perguntas. “Eu concordo! Eu discordo”. Um debate, nunca deveria ser uma competição onde você ridiculariza a outra parte. Não existe ninguém para “atacar”, mas sim trocar. Você deve atacar ideias, não pessoas.
No entanto, como bem sinteziou Neil deGrasse Tyson, eu não sei bem o que dizer às pessoas que têm reações explosivas quando confrontadas com verdades objetivas, atacando quem lhes dá essas informações. A ciência, sendo um endosso vivo em favor de mais, nos proporcionou as maravilhas do mundo moderno. E o alicerce dos métodos e das ferramentas da ciência namoram a humildade. Humildade para explorar as fronteiras do conhecimento, e de não engrossar os suposições básicas da sociedade vigente.
Uma suposição básica das sociedades precedentes, diz respeito a ideia de que a terra era plana. Hoje temos os instrumentos científicos para invalidá-la. Então com essa preocupação em mente, quais suposições básicas você tem na vida como indíviduo? Sobre si mesmo? Quais são as suas crenças fundamentais?
O seu cérebro é uma grande massa cinza de modelar, e sofreu uma lenta reconfiguração, engrossando crenças fundamentais sobre o mundo e sobre si mesmo. E se você não tomar cuidado, se tornará uma grotesca amálgama de hábitos, traumas e suposições básicas engrossadas a cada pensamento delirante do tipo:
“Eu sou assim, eu nunca vou mudar” — mas como, e por quê?
Se a ciência namora a humildade, o “como” e o “por que” são seus filhos. A ciência pode ser imune a opiniões, mas não a experimentos. Embora ela esteja sujeita a más interpretações, e conclusões precipitadas, poder-se-ia regatear que ela dispõe dos métodos e ferramentas para corrigir a si mesmo. Contanto que o gênero Homo, espécie Sapiens não destrua esses métodos e ferramentas, essa forma de pensar, existe esperança.
Por dentro desta presença corporal, existe um presente antigo, passado de geração em geração. Uma sopa de água, cálcio, e moléculas orgânicas, culminando no pulsar de mais um coração. Boiando em uma placenta azul, olhos transbordam. Distraídos, sem enxergar que atrás do sol existe uma melodia, e é o demônio da impermanência que vem dançando… seduzindo ao som de novos dias.
Os olhos podem ver? As sombras holográficas. Os cérebros conseguirão decifrar? O reflexo da realidade, em cima da murada do seu próprio horizonte ignorante.
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Nas cartas enviadas ao Neil deGrasse Tyson, que ele compartilha em Respostas de Um Astrofísico, podemos ver um grande negacionismo científico dos norte americanos, quando confrontados com verdades que questionam suas crenças fundamentais — que gravitam ao redor de astrologia, religião, OVNIS, espiritualidade, pseudociências.
O negacionismo científico evidente nas cartas de Respostas de Um Astrofísico, também evidencia uma grande falha do sistema educacional: em nutrir o raciocínio lógico; o pensamento crítico; a filosofia. Precisamos alimentar essas coisas que se traduzem como humildade, gentileza e curiosidade em todos os indivíduos que formam a carteira de investimentos, e o corpo de conhecimento que chamos de civilização. É o único antídoto eficaz que nos garantirá a sobrevivência, a longo prazo.
Gentileza ao discodar. Humildade para perguntar. Curiosidade em explorar. Caso contrário, o Homo Sapiens continuará se inclinando em direção, novamente, a um novo abismo. Outro abismo escuro, frio, vazio e solitário.
“Estamos irrevogavelmente em um caminho que nos levará às estrelas. A não ser que, por uma monstruosa capitulação ao egoísmo e à estupidez, acabemos nos destruindo.”